quinta-feira, 17 de março de 2011

O Poeta Moribundo


Poetas! amanhã ao meu cadáver 
Minha tripa cortai mais sonorosa! 
Façam dela uma corda, e cantem nela 
Os amores da vida esperançosa!


Cantem esse verso que me alentava... 
O aroma dos currais, o bezerrinho, 
As aves que na sombra suspiravam, 
E os sapos que cantavam no caminho!


Coração, por que tremes? Se esta lira 
Nas minhas mãos sem força desafina, 
Enquanto ao cemitério não te levam 
Casa no marimbau a alma divina!


Eu morro qual nas mãos da cozinheira 
O marreco piando na agonia . . .
Como o cisne de outrora... que gemendo 
Entre os hinos de amor se enternecia.


Coração, por que tremes? Vejo a morte 
Ali vem lazarenta e desdentada. .. 
Que noiva!. . . E devo então dormir com ela?. ..
Se ela ao menos dormisse mascarada!


Que ruínas! que amor petrificado! 
Tão antediluviano e gigantesco! 
Ora, façam idéia que ternuras 
Terá essa lagarta posta ao fresco!


Antes mil vezes que dormir com ela, 
Que dessa fúria o gozo, amor eterno. . . 
Se ali não há também amor de velha, 
Dêem-me as caldeiras do terceiro Inferno!


No inferno estão suavíssimas belezas,
Cleópatras, Helenas, Eleonoras;
Lá se namora em boa companhia,
Não pode haver inferno com Senhoras!


Se é verdade que os homens gozadores, 
Amigos de no vinho ter consolos, 
Foram com Satanás fazer colônia, 
Antes lá que no Céu sofrer os tolos!-


Ora! e forcem um'alma qual a minha 
Que no altar sacrifica ao Deus-Preguiça 
A cantar ladainha eternamente 
E por mil anos ajudar a Missa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário